PARANDO PRA PENSAR sobre o real valor das pessoas
Tive a infelicidade de participar do seguinte diálogo:
- E aí, já estás rico? Tu só trabalha aqui, é? Não trabalha em mais nenhum outro vínculo?!
- Não, apenas aqui. E nem quero outro.
- Ah, entendi. E será que fulano (identidade preservada) já está? Ele trabalha pra caramba, em vários lugares.
- Não sei.
- Qual o carro dele?
- Não sei...
- É novo?
- Não sei...
- Ele já tem carro?
- Também não sei, visse.
- E tu, tem carro?
- Não, nem tenho.
- Tu vem de ônibus, é?!
- Não, venho de moto.
- Hmmmm, e qual é tua moto?
- Uma BROS.
- Ah, mas daqui a pouco tu compra teu carro.
- Não, eu não quero carro. E nem preciso de um carro agora.
- Ah, então daqui a pouco tu troca tua moto.
P-u-t-a-q-u-e-p-a-r-i-u-! Então, para adentrar a uma classe social eu preciso TER/POSSUIR alguma coisa de valor, algum bem que seja cabível declarar no Importo de Renda? Eu achava que bastava eu existir, mas parece que não. O que você é, pouco importa. E se eu tivesse apenas uma bicicleta e quisesse me locomover com ela pela cidade? Eu seria considerado um mendigo de carteira assinada? Quase, né... Depende da bike. Se o freio for a disco aí é bike de empresário. Mas se for freio de pastilha, ai pode ser a bike do mendigo, realmente. Essa lógica de VOCÊ É O QUE VOCÊ TEM é assustadora. E, apesar de ela sempre existir, nunca tive uma experiência tão concreta como nesse diálogo. Eu confesso que fiquei assustado com aquela realidade nua e crua, sem um mínimo de eufemismo.
Pensando como Rubem Alves, quando afirma que "Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si", fica fácil perceber que outras pessoas são vistas apenas pelo ponto de vista do que possuem porque o observador delas leva a vida sob esse propósito. Dessa forma, fazendo uma analogia, não tem como fazer suco de tomate usando limão. Então, o que e como você vê as pessoas é muito mais como você é do que como são, de fato, as pessoas.
Pensei: "Fulano" é uma pessoa incrível, um profissional fora da curva, com uma experiência fora do normal, e também uma pessoa extremamente ética, atenciosa e altruísta. Que diferença faz se ele tem carro? Que diferença faz se o carro dele é novo? Eu não consigo encontrar resposta diferente de "nenhuma". E pior, antes disso, eu não consigo encontrar sentido na ligação entre os bens da pessoa e a pessoa.
Qual o real valor das pessoas: o que elas têm ou o que elas são?
Abraço!
Rafael Urquisa
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