31/05/2016

O que é possível aprender com a jardinagem?

 


PARANDO PRA PENSAR sobre as lições de vida que o banal pode oferecer

Depois que passei a morar em uma casa descobri uma nova paixão: a jardinagem. Das ervas daninhas até à correção do pH do solo com calcário, eu me interesso. Com destaque para as palmeiras (imperiais, manila, areca, cyca, cyca revoluta, coqueiros, etc) e pés de fruta (mamão, jambo, manga, goiaba, caju, limão, pitanga e romã), todos plantados e cuidados aqui. No entanto, mais do que uma ornamentação, paisagismo, flores, frutos e contato permanente com a natureza, a jardinagem (algo extremamente banal como plantar um porcaria de uma semente) permite inúmeras reflexões e lições de vida, as quais com certeza farei questão de passar para os meus filhos.

Uma das primeiras coisas que eu vou ensinar para o meu filho é a jardinagem. E jardinagem, normalmente, a gente não aprende na escola. Ainda que isso seja aprendido, será a técnica, a prática, o processo de cavar, plantar, regar, deixar ao sol e esperar para ver brotar. Mas existe uma coisa por trás disso, a qual a escola não nos ensina. Na verdade, acredito que todas as coisas que realmente importam na vida a escola não nos ensina. É como o educador, escritor e filósofo Cortella diz: "a escola não faz educação, a escola faz escolarização, que é uma parte da educação". Logo, fica fácil de concluir que há alguma coisa errada na nossa formação enquanto cidadão, ou melhor, enquanto ser humano. Mas isso é para um outro texto. Retomemos, então, ao que primeiro irei ensinar ao meu filho.

Assim que for possível (cognitivamente) ele entender o sentido metafísico/conotativo das coisas, discutiremos quais as semelhanças que a jardinagem tem com a nossa vida. Antes disso, nós apenas cavaremos, plantaremos, regaremos, deixaremos o sol atuar e esperaremos para ver brotar, assim como ele poderá, talvez, aprender na escola. Caso não, assim começarei.

Visando uma discussão futura, plantaremos um pé de feijão e um pé de mamão, pois sei que o primeiro demora cerca de uns quatro dias para brotar, enquanto que o de mamão, umas duas semanas. Perguntarei o porquê de um haver brotado primeiro e o outro demorado tanto. É provável (e natural) que ele fique feliz pelo pé de feijão, mas ansioso, curioso e inquieto pela lentidão do pé de mamão. Discutiremos sobre isso. Por que algumas nascem mais rápido e outras não?

Após alguns dias, compraremos alguns vasos, sacos de areia adubada e algumas plantas. Escolheremos o local em que o vaso ficará, colocaremos a areia no vaso, plantaremos a planta escolhida e regaremos com a esperança de que no outro dia ela esteja mais bonita. Mas isso não vai acontecer. No outro dia ela estará menos vigorosa, frágil, com algumas folhas a menos. No entanto, após uma semana, aproximadamente, perceberemos juntos que a planta está retomando a sua beleza que vimos no momento em que a conseguimos/compramos. Discutiremos sobre isso. Por que em um primeiro momento ela parece morrer e depois de um tempo ela retoma sua beleza?

Após alguns meses, compraremos grânulos de fertilizante contendo nitrogênio, sódio e potássio. E depois de algumas semanas iremos perceber juntos que todas as plantas ficaram mais verdes, mais bonitas, mais fortes, deram mais flores e frutos depois de colocarmos o fertilizante. Nesse momento discutiremos qual a influência que o fertilizante tem para as plantas. Nesse momento discutiremos o que são esses elementos químicos e para que eles servem. Por que a planta passou a crescer mais depois que utilizamos o fertilizante? Poderemos também discutir nesse momento o porquê de as folhas serem verdes, e o porquê de as plantas precisarem da exposição ao sol.

E, em algum momento, discutiremos o quanto podemos obter lições de vida com o simples lidar com a jardinagem, o quanto poderemos ir além da razão biológica e fisiológica, da ciência da natureza em si. E a ideia é que ele perceba que o fruto que se come ou as flores que se compram para se dar de presente necessitam de um PROCESSO que tem início muito tempo antes do resultado final. A flor para ser flor ela precisou ser desejada, planejada, plantada, regada, cultivada, fertilizada, cuidada, para depois ser cortada e vendida. A fruta também precisou passar por todo esse PROCESSO. Ele vai entender que tudo na vida faz parte de um processo; que as coisas não já nascem prontas. Assim como na jardinagem, na nossa vida a gente precisa cavar (dedicar-se), plantar (dar-se), regar (investir), deixar o sol atuar (dar tempo ao tempo) e esperar brotar (colher os frutos). Se você cavou pouco, plantou pouco, você colherá pouco. Se você cavou de forma medíocre e plantou uma semente podre, você vai colher fruta podre.

O pé de feijão e o de mamão farão ele perceber que na vida nem tudo tem o tempo que queremos que tenha. Algumas coisas são imediatas, outras não. E não adianta que você queira que aquilo brote agora, a única coisa que você pode fazer é esperar. Apenas! Só! Não tem pra onde correr. A ansiedade e inquietude pode ser vã.

Ele vai perceber que depois de colocar uma planta em um novo vaso ela requer um tempo para se acostumar com o novo ambiente. Primeiro ela se restringe de toda sua beleza e força, para depois retornar à forma ideal. Ele vai perceber que tudo requer adaptação, e que cada planta tem o tempo, assim como cada pessoa tem o seu tempo.

Com o uso do fertilizante ele vai perceber que na vida precisamos sempre fertilizar as coisas e as pessoas ao nosso redor, pois as flores e frutos que colheremos delas (das pessoas), consequentemente, serão mais coloridas, mais doces. Aqui ele vai perceber também que há desenvolvimento sem o uso do fertilizante, no entanto, se existe um instrumento natural que me permita potencializar isso, é claro que parece ser mais interessante. Ele vai perceber que é sempre melhor utilizar instrumentos que motivem e estimulem as coisas e pessoas ao seu redor, assim como fez com as plantinhas que fertilizou.

Por fim, eu já velho e ele já adulto, e não me importando que ele seja jardineiro ou um grande empresário, o que me importa é que ele tenha contato com a jardinagem, o que me importa é que ele seja em algum momento da vida protagonista e responsável pela vida de um outro ser vivo (planta, pessoa, animal), e saiba que tudo que ele faz, que todas as atitudes que ele tem, podem trazer repercussões que FAÇAM CRESCER ou FAÇAM DESTRUIR, e que perceba que os frutos que serão colhidos por ele dependerão do QUANTO e de COMO ele vai decidir CAVAR e PLANTAR. E que não adianta querer que tudo aconteça no seu tempo, pois os frutos só estarão prontos para serem colhidos quando tiver de ser. Do contrário, poderá facilmente ter um sabor amargo.

Isso tudo eu tenho certeza que a escola não vai ensinar. E, na verdade, não tem de ensinar mesmo. Isso é algo inerente à formação do indivíduo, de caráter, de personalidade. Não se pode delegar TODA A EDUCAÇÃO à escola. É impossível formar uma personalidade das oito ao meio-dia, com toda uma desconstrução dessa formação no contexto extra-escolar. A formação do indivíduo ocorre fora da escola, e a ela cabe apenas CONTRIBUIR com essa formação.

E você, se nascesse hoje, qual seria a coisa mais importante a ser aprendida para a sua vida (e que, claro, a escola não ensinaria)?

Forte abraço!

Rafael Urquisa

21/05/2016

Até onde o preconceito pode nos levar?

 

PARANDO PRA PENSAR sobre a potencialidade do preconceito

Ao assistir a um vídeo falando sobre a Ku Klux Klan (https://www.youtube.com/watch?v=VCWY8YkqcRE), rapidamente me veio à cabeça uma discussão com um colega sobre preconceito, na qual ele afirmou que aqui no Brasil não existe preconceito, que isso tudo é ilusão da minoria. Acreditem, essa frase realmente foi proferida por um ser humano portador de encéfalo. E, infelizmente, eu não a esqueci. Existem coisas que depois de ver e/ou ouvir a gente não consegue "desver" ou "desouvir". Triste para mim. Na hora em que assistia esse vídeo, pensei: "MEU DEUS! Até onde o preconceito consegue chegar? Inacreditável. Se fulano (identidade preservada) assistisse a esse vídeo seria difícil de ele argumentar que o preconceito é ilusão; seria impossível".

Nessa mesma discussão, argumentei que essa era uma realidade muito óbvia, muito evidente em nosso país, na qual nem se precisa de uma longa discussão para se chegar a uma conclusão de que isso é FATO. Exemplifiquei com a seguinte possibilidade: imagine você (apontando para o colega) em uma entrevista de emprego como recepcionista. Você não é negro, não é homossexual, concluiu seu ensino médio, possui todos os dentes, não é cego, não é "doente mental", não é deficiente físico, e pode, atualmente, ir com uma roupa bacana para a entrevista de emprego. Ok, foram muitas variáveis para se pôr em conta. Então, vamos diferenciar apenas em negro, gay e pobre. Imagine em uma entrevista: você, um gay e um negro. Quem ficaria no emprego? Recebo a resposta: "Qualquer um, a depender da competência". Respondo: "Ok, beleza. Agora imagine que você, o gay e o negro fizeram o mesmo curso, na mesma faculdade, mesmas experiências profissionais. Quem ficaria no emprego?". Recebo a resposta: "Nada a ver. Esse negócio de preconceito aqui no Brasil... isso é ilusão!". Retornei: "Ilusão?! É sério, isso?! Beleza, ok". Conclui veementemente a discussão, abismado, com a certeza de que NÃO VALERIA A PENA PERDER MEU TEMPO.

No entanto, a resposta seria o "você". "Você" é o ser humano reconhecido socialmente como "normal" (normal-entre-aspas), reconhecido como uma pessoa eleita para receber outras (no cargo de recepcionista), a qual não desperte "rejeição" nas outras pessoas. E isso pode até mesmo ser uma avaliação inconsciente da sociedade, fruto de uma construção culturalmente preconceituosa. Para deixar claro, essa não é a minha opinião, a de que o "você" era a pessoa mais indicada, mas é a constatação de que é como, atual e infelizmente, "a máquina" funciona, como "a máquina" gira, queira eu ou não.

Pensando que "o preconceito é uma opinião não submetida à razão" (Voltaire, filósofo francês), como fazer uma pessoa enxergar que EXISTE PRECONCEITO NO BRASIL, se essa pessoa está IRRACIONALMENTE, EMOCIONALMENTE, VISCERALMENTE (sim, estou sendo redundante) convencida de que não há? Restou-me dizer "hunrum, ok, beleza". Tem certas coisas e certos momentos que é melhor você permanecer são do que querer estar certo. Continuar nessa discussão só ia me desgastar e não ia mudar nada na cabeça do colega. Fazendo uma analogia, seria como continuar cavando no mesmo local depois de descobrir que o tesouro não estava mais ali. Não fazia mais sentido. Einstein dizia que "é mais fácil desintegrar um átomo que o preconceito". E, com o passar do tempo, isso vem piorando: eu mesmo lembro de ter estudado que o átomo (partícula indivisível) já se divide, enquanto que o preconceito só aumenta. Einstein já estava certo há tempos!

Até onde o preconceito pode ir?
Até onde pode chegar a ideologia de que uma raça é superior?
Assistam ao vídeo e observarão as respostas para essas perguntas.

Forte abraço.

Rafael Urquisa

20/05/2016

Quanto você vale? Ter ou não ter, eis a questão.

 


PARANDO PRA PENSAR sobre o real valor das pessoas

Tive a infelicidade de participar do seguinte diálogo:

- E aí, já estás rico? Tu só trabalha aqui, é? Não trabalha em mais nenhum outro vínculo?!
- Não, apenas aqui. E nem quero outro.
- Ah, entendi. E será que fulano (identidade preservada) já está? Ele trabalha pra caramba, em vários lugares.
- Não sei.
- Qual o carro dele?
- Não sei...
- É novo?
- Não sei...
- Ele já tem carro?
- Também não sei, visse.
- E tu, tem carro?
- Não, nem tenho.
- Tu vem de ônibus, é?!
- Não, venho de moto.
- Hmmmm, e qual é tua moto?
- Uma BROS.
- Ah, mas daqui a pouco tu compra teu carro.
- Não, eu não quero carro. E nem preciso de um carro agora.
- Ah, então daqui a pouco tu troca tua moto.

P-u-t-a-q-u-e-p-a-r-i-u-! Então, para adentrar a uma classe social eu preciso TER/POSSUIR alguma coisa de valor, algum bem que seja cabível declarar no Importo de Renda? Eu achava que bastava eu existir, mas parece que não. O que você é, pouco importa. E se eu tivesse apenas uma bicicleta e quisesse me locomover com ela pela cidade? Eu seria considerado um mendigo de carteira assinada? Quase, né... Depende da bike. Se o freio for a disco aí é bike de empresário. Mas se for freio de pastilha, ai pode ser a bike do mendigo, realmente. Essa lógica de VOCÊ É O QUE VOCÊ TEM é assustadora. E, apesar de ela sempre existir, nunca tive uma experiência tão concreta como nesse diálogo. Eu confesso que fiquei assustado com aquela realidade nua e crua, sem um mínimo de eufemismo.

Pensando como Rubem Alves, quando afirma que "Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si", fica fácil perceber que outras pessoas são vistas apenas pelo ponto de vista do que possuem porque o observador delas leva a vida sob esse propósito. Dessa forma, fazendo uma analogia, não tem como fazer suco de tomate usando limão. Então, o que e como você vê as pessoas é muito mais como você é do que como são, de fato, as pessoas.

Pensei: "Fulano" é uma pessoa incrível, um profissional fora da curva, com uma experiência fora do normal, e também uma pessoa extremamente ética, atenciosa e altruísta. Que diferença faz se ele tem carro? Que diferença faz se o carro dele é novo? Eu não consigo encontrar resposta diferente de "nenhuma". E pior, antes disso, eu não consigo encontrar sentido na ligação entre os bens da pessoa e a pessoa.

Qual o real valor das pessoas: o que elas têm ou o que elas são?

Abraço!

Rafael Urquisa

07/05/2016

Qual é o maior perigo para a sua felicidade?


PARANDO PRA PENSAR sobre as ameaças à nossa felicidade

Desde pequeno somos instigados a sonhar alto. É isso que nos aconselham aqueles que nos amam, ou que, no mínimo, tenham alguma admiração por nós. "Sonhar alto" no sentido de correr atrás dos nossos sonhos, alcançá-los, não deixar nada atrapalhar a realização deles, não hipervalorizar os obstáculos que terão pelo caminho. Do contrário, facilmente estará presente a frustração cotidiana, o condicionamento robótico do simples ciclo de acordar-trabalhar-retornar-comer-dormir-acordar-trabalhar, sem um grande propósito, sem um grande porquê na nossa vida.

Mas olha que loucura: existe muita gente que auto-destrói a sua trajetória para a felicidade, seja destruindo por si só os seus sonhos (se autolimitando ou se fazendo acreditar que aquilo é impossível), seja agregando valores e pessoas às suas vidas as quais contribuem para essa destruição. Tudo pode ser uma ameaça para a sua felicidade. Mas também tudo pode ser um estímulo. A felicidade depende unicamente de você e do que e quem você escolhe para caminhar junto nessa jornada. Você é totalmente responsável pelo trajeto até ela. Perceba que não estou ignorando a presença de outras pessoas, elas são fundamentais. Mas o que destaco é que até mesmo essas pessoas, elas são colocadas (e se mantêm) na sua vida porque você permite, porque você escolhe. Logo, você é responsável por pessoas que te desestimulam ou estimulam a sempre querer e fazer o seu melhor para realizar os seus sonhos.

Mas o que estou querendo dizer? Simples e direto: escolha ter ao seu lado pessoas que sempre o estimule a ser a sua melhor versão. Não estou falando em ser perfeito ou melhor do que ninguém. Estou falando em ser a melhor versão que lhe é cabível. Sempre! É o que o Murilo Gun sempre fala: "Você é a média das 5 pessoas que você mais convive". Se você convive com pessoas FODA (o adjetivo FODA é relativo; é o que é importante pra VOCÊ; é o que converge com suas ideias), isso te faz ser um pouco da média delas. Se você apenas convive com pessoas medíocres, a tendência é que você passe a agir de forma medíocre, pense de forma medíocre, escreva de forma medíocre, viva de forma medíocre e encare os seus sonhos assim como as pessoas medíocres, e também acredite que a felicidade está no condicionamento robótico do ciclo, assim como pessoas medíocres. Vamos conceituar o termo medíocre: "aquele que está entre o grande e o pequeno; entre o bom e o mau". Esse é o conceito que o Google nos apresenta. Eu queria deixar isso mais claro: medíocre é o que NEM FEDE E NEM CHEIRA, NEM TREPA E NEM SAI DE CIMA, NÃO MORDE E NEM LATE, NÃO É QUENTE E NEM FRIO, TANTO FAZ.

Ah, as eu sou feliz dentro desse ciclo, não pode? Pode, claro. O que não pode é você se auto-sabotar de que isso é a sua felicidade por simples comodismo. Isso gasta menos energia-mental, é mais confortável, é mais cômodo, mas FODE com tudo no mundo. Tudo! Imagine um mundo com todos fazendo o que gostam. Você chega numa loja e a atendente te recebe feliz e motivada, pois ela sempre quis ser lojista e o trabalho para ela nada mais é do que a realização diária de um sonho. Ela vivencia o seu sonho TODOS OS DIAS da sua vida. Agora imagine uma lojista que te recebe mal, pelo fato de não estar feliz com o que está realizando TODOS OS DIAS, e não acredita no seu potencial. Ela sonha em ser veterinária, mas diz que nunca teve oportunidades na vida, se diz incapaz de passar em um vestibular, diz que já está velha demaispara estudar, diz que não tem tempo, diz que está sempre cansada. Eu entendo as dificuldades, as limitações, ainda mais em um país o qual a desigualdade (e a falta de oportunidades) é bem evidente. Mas qual o sentido da vida desse jeito? Não seria incrível se todas as pessoas do mundo trabalhassem com o que sonham e com o que as deixam felizes?

A pior ameaça de todos os tempos à felicidade são aquelas pessoas que não sonham alto, e, consequentemente, cortam as suas asas para que você também não voe, não sonhe alto, ainda que isso seja inconsciente por parte de outrem. Essas são as mais perigosas. A visão de um futuro ao qual sonhamos nos estimula e motiva. E isso funciona para qualquer pessoa. Um ser humano que não tem ou sente isso é um ser que não transborda. Como assim, não transborda? Imagine o leite esquentando no fogo. A parte externa do recipiente só entrará em contato com o leite caso ele transborde. Do contrário, a parte externa NUNCA SERÁ CONTAGIADA PELO LEITE. Um ser humano que transborda pode te ajudar nos teus sonhos, uma vez que você (parte externa) será tocado/contagiado por esse conteúdo (o leite).

Existem pessoas que não transbordam, não compartilham do seu conteúdo interno para a parte externa. E, quando veem que você está querendo voar alto, te puxam pra baixo. Como têm medo de arriscar, de ir em busca dos sonhos, querem que outras pessoas permaneçam juntos a ela. Essas pessoas são uma grande ameaça à sua felicidade.

Isso pode ser percebido como uma visão egoísta de relação interpessoal, mas a discussão não é ter pessoas em sua vida que apenas TE OFEREÇAM ALGO PARA QUE VOCÊ POSSA SUBIR, não é se aproximar de pessoas ou usá-las para conseguir os seus objetivos. Definitivamente, não é isso. A reflexão é em cima de que VOCÊ É PROTAGONISTA DA SUA FELICIDADE, e deve usar as variáveis ao seu redor para que potencialize o seu propósito de vida. Refiro-me à convergência das variáveis em prol da felicidade.

Outra ameaça, além de pessoas, são coisas e hábitos que te tiram do seu foco, que comprometem a sua trajetória. Se o meu sonho é correr uma maratona, eu estou treinando para isso, alimentando-me para tal, dormindo melhor? Se meu sonho é trabalhar em um determinado local, eu estou criando as oportunidades para tal, estou convergindo as variáveis para que isso se concretize? Por exemplo, o Facebook me distrai, toma-me o foco, diverge do meu objetivo? Eu realmente preciso do Facebook? Aquele grupo no Whatsapp não me traz nada, não me acrescenta nada, o povo só envia e fala bobagem? Eu realmente preciso estar nesse grupo? São COISAS que podemos refletir sobre o que nos traz algum valor ou não. E isso é EXTREMAMENTE relativo, mas imprescindível de reflexão.

Quais as maiores ameaças para a sua felicidade hoje em dia? Você realmente precisa delas no seu cotidiano? O que você tem feito para agregar coisas na sua vida que te estimulem a alcançar a felicidade? Se nunca refletiu sobre isso, é bom parar pra pensar...

Forte abraço!

Rafael Urquisa

05/05/2016

Por que, apesar de impactante, é bom trabalhar com acidentes?

 


PARANDO PRA PENSAR sobre a igualdade em um cenário de vulnerabilidade

Certo dia, enquanto tripulante de uma ambulância, e após ter deixado um paciente extremamente grave na unidade hospitalar, pensei no quanto o ser humano é pretensioso  ao achar que é superior a outrem. E sempre que eu me deparava com uma situação dessas, de atendimento como esses, envolvendo acidentes de carro, de moto, vítimas de arma de fogo e afins, sempre pensava no limiar da sobrevivência como algo tão fino, algo tão frágil, sempre pensando naquela expressão de que "para morrer basta estar vivo". E isso me faz, mais ainda, não entender como uma pessoa ainda pode achar que, pelo fato de ter um cabelo liso, uma pele clara ou mais dinheiro no bolso pode ser melhor do que outra pessoa. Parece uma conclusão fria, mas não, ela é a realidade: no final das contas, todo mundo fede igual; no final das contas, o sangue que escorre é vermelho do mesmo jeito; o osso que quebra, também. É tudo igual. Não entendo.

E, pensando assim, conclui-se que, de todas as doenças ou agravos à saúde, o trauma (acidentes) me parece o mais democrático. Algumas doenças, a depender de seu contexto econômico, sua cor de pele e etc. até podem repercutir no seu aparecimento; é o que se chama de fator de risco. No entanto, o trauma é democrático. E me refiro à fragilidade humana, à fragilidade anatomofisiológica. Não faz diferença para uma bala se sua cabeça possui conexões neuronais de um analfabeto ou de um pós-doutor, ela penetra do mesmo jeito. Para a faca, pouco importa se sua pele é branca, preta, amarela, ela perfura e corta do mesmo jeito. Para o fígado, no trauma abdominal, pouco importa se você come caviar ou água com farinha, ele é o principal acometido nessa situação e se rompe do mesmo jeito. A fragilidade é a mesma. E, diante da morte, pouco importa se você tem mil reais ou dois reais no bolso, o corpo apodrece e fede DO MESMO JEITO. Mas ainda há aqueles que se sentem, de alguma forma, superior ao próximo.

Isso não me faz necessariamente levar a vida como o simples e absoluto "Carpe Diem", para aproveitar o agora e ponto final, uma vez que "para morrer basta estar vivo". Não é isso. Essa ideia me parece muito radical. Mas o que é primordial é considerar a nossa fragilidade (enquanto ser humano, enquanto ser vivo, enquanto SOBREVIVENTE), tendo consciência de que o que você TEM NÃO FAZ DIFERENÇA NENHUMA em um acidente, em um cenário de vulnerabilidade à sua sobrevida.

Tudo isso permite a valorização das coisas. Há um provérbio que diz que "terminado o jogo, o rei e o peão repousam lado a lado na mesma caixinha". Acredito que pensar desse modo faz valorizar as coisas ao redor e, principalmente, AS PESSOAS. Diante dessa minha fragilidade enquanto ser vivo, que cuidados posso tomar, de que forma eu posso me prevenir, como eu posso contribuir para a segurança de outrem que convive no meu mundo, será que vale a pena eu me glorificar apenas por ter um carro do ano? Mas, no FINAL DAS CONTAS, não somos todos iguais? O carro do ano REALMENTE me faz melhor ou superior a alguém? Cabe parar pra pensar nisso.

Forte abraço!

Rafael Urquisa